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quarta-feira, 25 de março de 2009

Amigos...

Texto enviado por Geraldo Venâncio para o mês da Mulher.

Autor: Masaharu Taniguchi

Mesmo uma pessoa dotada de grande talento não conseguirá realizar sozinho uma grande obra.

Por exemplo, um artista talentoso também precisa do apoio de um grupo de amigos e simpatizantes que compreendam sua arte. Os literatos como Mushanokōji Saneatsu, Satomi Ton, Nagayo Yoshiro, Arishima Takeo, Yanagi Muneyoshi e outros tiveram suas obras aceitas e bastante elogiadas pelo público e se tornaram intelectuais consagrados porque pertenciam a um grupo da corrente literária Shirakaba, cujos membros procuravam sempre compreender os trabalhos dos colegas, elogiá-los e incentivá-los. Eles estavam unidos pelo amor e elogiavam uns aos outros os pontos positivos das respectivas obras artísticas.

Somente quem ama consegue descobrir os pontos positivos do outro. Descobrir é “fazer surgir concretamente”. Portanto, somente aquele que tem afeto sincero pelo amigo consegue fazer surgir concretamente os pontos positivos dele. Num mundo em que ninguém se importa com ninguém, e as pessoas não se amam nem se elogiam mutuamente, não se desenvolvem as qualidades nem surge a felicidade. Para poder desenvolver as qualidades e alcançar a felicidade, as pessoas precisam formar grupos de bons amigos.

Se alguém não consegue ter amigos, é porque tem a postura mental errada: espera que os outros o amem e lhe proporcionem algo bom, mas ele próprio não toma a iniciativa de fazer algo bom para os outros, de expressar o afeto, e pensa que somente quando os outros tomarem a iniciativa deve procurar corresponder à demonstração de amizade. Permanecendo nessa atitude passiva, sem tomar nenhuma iniciativa, não conseguirá criar algo valioso nesta vida nem concretizar a própria felicidade.

Somente quem ama é amado, somente quem se doa merece doação, somente quem cria algo valioso pode desfrutar coisas boas e preciosas. Se você deseja receber amor, deve tomar a iniciativa de cultivar o amor. Antes de mais nada, precisa se tornar uma pessoa cativante. O amor é uma grande força que cativa e magnetiza. Aquele que é capaz de amar intensamente a humanidade torna-se alvo de amor fervoroso da multidão. Se você concentrar sua atenção em alguém e expressar-lhe seu afeto sincero, com certeza ele se tornará um bom amigo e um excelente colaborador.

Se você quer ser amado, tome a iniciativa de amar. Talvez você tenha passado pela experiência de amar alguém e não ser correspondido. Nesse caso, embora você pensasse amar essa pessoa, não a amava de verdade. Você buscava algo em troca do amor. Expressar amor com o objetivo de obter algo em troca – isso é o que as meretrizes fazem. Obviamente, não é o amor verdadeiro. Somente quem ama de verdade pode receber o amor verdadeiro, que é generoso, desprendido e não exige retribuição.

Ame a humanidade sem esperar recompensa. Aqueles que pensam em sabotar a produção não amam a humanidade. Se você ama os trabalhadores, eles se aliarão a você, se tornarão seus amigos. Mas se você fechar-lhes as portas, eles também criarão barreiras. Para obter amigos, você próprio deve oferecer amizade aos outros, deve dedicar-lhes amor sincero, sem esperar recompensas.

Você já deve ter compreendido que o amor se obtém com o amor – e que o amor é uma grande força magnética. Agora, eu lhe pergunto: Ao amar alguém, o que você ama nessa pessoa? O talento? Os traços fisionômicos? A boa apresentação? A habilidade no trato social? A expressividade? O porte elegante? A bela voz? Qualquer que seja o ponto que você admire nessa pessoa, isso não significa que a ama de verdade. As partes manifestadas não retratam o todo, não representam o Eu verdadeiro da pessoa.

Suponhamos que a pessoa amada sofra um acidente grave e fique com o rosto deformado. Se você amava a bela aparência dessa pessoa, provavelmente você deixará de amá-la. Se você amava o talento dessa pessoa, deixará de amá-la ao perceber que, em conseqüência do acidente, ela já não consegue manifestar o talento. Entretanto, nem a aparência nem o talento são a “pessoa em si”, ou seja, a essência do seu ser. Mesmo que a pessoa se torne feia, mesmo que o seu talento seja arruinado, a sua essência não muda. Seu amor se mantém imutável mesmo que a pessoa sofra transformações, seja no aspecto físico ou na capacidade intelectual? Reflita, faça um exame crítico dos seus próprios sentimentos. Se você não consegue ter bons amigos, analise a própria atitude mental. Provavelmente, é porque você não toma a iniciativa de “criar” bons amigos. Em última análise, passa a ser nosso somente o que nós próprios criamos.

Se você deseja sinceramente fazer amizade com alguém, dedique-lhe o afeto genuíno. A pessoa acolherá o seu afeto e se tornará um bom amigo.

Não se limite a amar somente o aspecto exterior do outro, admirando-lhe os traços fisionômicos, o visual, a conduta, a postura, o talento, a riqueza, a posição social etc. Ame-o pelo que constitui a sua verdadeira essência: a sua natureza espiritual, a sua natureza divina, o seu Eu verdadeiro de filho de Deus.

Não importa a aparência da pessoa, não importa que ela tenha talento limitado, seja pobre e de posição inferior, não importam a sua voz e a sua postura, se você contemplar-lhe a Imagem Verdadeira, conseguirá sentir amor por ela. Você seria capaz de agir como a imperatriz Kōmyō, que cuidou dos leprosos com amor e carinho?

Por mais repulsivo que seja o aspecto fenomênico de alguém, devemos ver com os olhos da alma a sua natureza espiritual divina – ou “natureza búdica”, na linguagem do budismo – e contemplar com respeito e amor esse aspecto verdadeiro. Contemplar é fazer surgir. Por isso, quando a imperatriz Kōmyō transcendeu o aspecto fenomênico repulsivo de um leproso e lavou as feridas repugnantes das suas costas, contemplando a natureza búdica dele, o paciente assumiu a forma de Ashuku Nyorai, uma das manifestações de Buda. Agir como a imperatriz Kōmyō, que contemplava a Imagem Verdadeira de todas as pessoas e reconhecia-lhes a natureza divina – ou búdica – é praticar a verdadeira democracia.

Somente quem ama de verdade é amado. Somente quem ama consegue vivenciar a felicidade de amar e ser amado. Não é possível alcançar a felicidade coagindo e pressionando os outros, pois tal conduta é contrária ao amor. É possível conseguir o que se deseja usando a força coercitiva e exercendo pressão, mas isso atenta contra o amor, e não se consegue a verdadeira felicidade por meio de atos que não se fundamentam no amor. O prazer que se consegue derrotando os outros ou exercendo-lhes pressão é uma espécie de prazer sádico, e não um sentimento humano. Somente o amor atrai o amor, somente o amor traz a felicidade serena e tranqüila.

Do livro Kofuku Seikatsuron (ainda não editado em português; tít. prov.: Teoria sobre a Vida Feliz), pp. 15-20

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