Há muito tempo atrás, em um monastério na Ásia, um grande iogue hindu, cheio de sabedoria e compaixão, formou um grupo de discípulos para passar todos os seus ensinamentos.
Esse grupo era formado por dois grupos menores, um era hindu e outro era muçulmano, mas ambos eram acolhidos como iguais pois, para os olhos de Brahman, não existem tais diferenças.
Durante muitos anos, ele ensinou, pacientemente, todos aqueles que se sentavam ao seus pés, falando das maravilhas dos Reinos Superiores e como qualquer um poderia alcançar esses Reinos se tivesse disciplina e seguisse suas instruções.
O tempo passou, e o grande mestre foi envelhecendo, mas sem nunca descuidar de suas meditações diárias.
E foi em uma dessas meditações que ele, em bem-aventurança, deixou o corpo físico e partiu para os mesmos Reinos que ele tanto falava.
Seus discípulos ficaram muito tristes com o ocorrido, pois o amavam profundamente.
Eles enrolaram o corpo do mestre em um pano branco e o velaram por 24 horas, entoando mantras sagrados.
Após esse tempo, começaram a fazer os preparativos para o funeral do mestre.
E foi quando tudo aconteceu.
O grupo hindu queria cremar o corpo do mestre, como era a tradição hindu. Já o grupo muçulmano queria enterrar o corpo do mestre, como era a tradição muçulmana.
Os grupos começaram a conversar, cada um procurando mostrar que o seu ritual funerário era o mais correto.
Passado um tempo, sem que ninguém chegasse à uma conclusão, a conversa se tornou uma discussão acalorada.
A discussão se tornou uma briga.
E a briga já estava se tornando agressão física, quando a porta do monastério se abriu de repente e eis que o mestre surgiu, caminhando em direção aos discípulos.
Todos ficaram mudos e paralisados. Afinal, o mestre estava morto! Seu corpo estava enrolado em um pano branco, bem perto deles! Quem era esse que entrava no monastério?
Foi quando o mestre começou a falar:
"Namastê, meus queridos filhos."
"Será que vocês já esqueceram tudo o que eu lhes ensinei?"
"Por quê vocês brigam pelo meu corpo? Ele é apenas uma carcaça vazia, minha essência já não se encontra mais com ele."
"Para serenar seus corações, façam o seguinte: dividam o meu corpo ao meio. Uma metade deverá ser enterrada, e a outra metade deverá ser cremada."
"Tenham sempre tolerância e compaixão uns pelos outros."
"Adeus."
Então o mestre saiu pela porta do monastério.
O silêncio ficou ainda mais pesado na sala, com o sentimento de vergonha que tomou conta de todos, afinal, a própria essência do mestre havia voltado para dar uma última lição.
Então, os discípulos se prepararam para a penosa tarefa de dividir o corpo do mestre.
E ao desenrolarem o pano branco, se espantaram ao ver que, no lugar do corpo do mestre, havia um grande ramalhete de flores.
Seguindo fielmente suas ordens finais, os discípulos dividiram o ramalhete de flores ao meio; metade foi enterrada, e a outra metade foi cremada.
Atlantis
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