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sábado, 29 de agosto de 2009

Morrer em Vida

(Texto de Martha Medeiros)

Texto enviado por Marina Peregni, obrigada pela colaboração.

Nunca esqueci de uma senhora que, ao responder por quanto tempo pretendia trabalhar, respondeu com toda a convicção: “Até os 100 anos”.

O repórter, provocador, insistiu:
“E depois?”.
“Ué, depois vou aproveitar a vida”.

É de se comemorar que as pessoas aparentem ter menos idade do que realmente têm e que mantenham a vitalidade e o bom humor intactos – os dois grandes elixires da juventude.

No entanto, cedo ou tarde (cada vez mais tarde, aleluia), envelheceremos todos. Não escondo que isso me amedronta um pouco. Ainda não cheguei perto da terceira idade, mas chegarei, e às vezes me angustio por antecipação com a dor inevitável de um dia ter que contrapor meu eu de dentro com meu eu de fora.

Rugas, tudo bem. Velhice não é isso, conheço gente enrugada que está saindo da faculdade.

A velhice tem armadilhas bem mais elaboradas do que vincos em torno dos olhos. Ela pressupõe uma desaceleração gradativa: descer escadas de forma mais cautelosa, ser traída pela memória com mais regularidade, ter o corpo mais flácido, menos frescor nos gestos, os órgãos internos não respondendo com tanta presteza, o fôlego faltando por causa de uma ladeira à toa, ainda que isso nem sempre se cumpra: há muitos homens e mulheres que além de um ótimo aspecto, mantêm uma saúde de pugilista.

A comparação com os pugilistas não é de todo absurda: é de briga mesmo que estamos falando. A briga contra o olhar do outro.

Muitos se queixam da pior das invisibilidades: “Não me olham mais com desejo”.
Ouvi uma mulher belíssima dizer isso num programa de tevê, e eu pensei: não pode ser por causa da embalagem, que é tão charmosa. Deve estar lhe faltando ousadia, agilidade de pensamento, a mesma gana de viver que tinha aos 30 ou 40.

Ela deve estar se boicotando de alguma forma, porque só cuidar da embalagem não adianta, o produto interno é que precisa seguir na validade.

Quem viu o filme “Fatal” deve lembrar do professor sessentão, vivido por Ben Kingsley, que se apaixona por uma linda e jovem aluna (Penélope Cruz) e passa a ter com ela um envolvimento que lhe serve como tubo de oxigênio e ao mesmo tempo o faz confrontar-se com a própria finitude.

No livro que deu origem ao filme (O Animal Agonizante, de Philip Roth), há uma frase que resume essa comovente ansiedade de vida: “Nada se aquieta, por mais que a gente envelheça”.

Essa é a ardileza da passagem do tempo: ela não te sossega por dentro da mesma forma que te desgasta por fora. O corpo decai com mais ligeireza que o espírito, que, ao contrário, costuma rejuvenescer quando a maturidade se estabelece.

Como compensar as perdas inevitáveis que a idade traz? Usando a cabeça: em vez de lutarmos para não envelhecer, devemos lutar para não emburrecer.

Seguir trabalhando, viajando, lendo, se relacionando, se interessando e se renovando. Porque se emburrecermos, aí sim, não restará mais nada.

4 comentários:

Um pai inteligente disse...

Acho tudo isso correto! Estou com 52 anos, sou casado e tenho tres jovens filhos e brigo todo o tempo para acompanhar a vida deles hoje.
As vezes o corpo não ajuda em nada e a mente é uma aliada importante.
Acredito que o tempo ajuda também a inovar e não me preocupar com detalhes.

Marilda Jorge disse...

Você está certo, temos que nos atualizar sempre. Felicidades e mande um grande beijo para todos os amigos de Pernambuco.
Luz e Paz!

Andrey Aspetta disse...

Mais uma lição de vida e de alento!
Precisamos manter sempre a mente jovem, sem ficar achando que já estamos no fim do caminho!
Tem gente que morre aos 25 anos (qdo deixa de sonhar) e só é enterrada aos 80!
Mente jovem em corpo jovem!
Somos o que pensamos!!!

Parabéns pelo blog!!!

Andrey, from Venice!!!

Marilda Jorge disse...

Se todas as pessoas soubessem que ler, escrever, dançar, tocar algum instrumento e outras coisitas mas, fazem toda a diferença... o mundo seria diferente e o astral muito melhor!
Beijos amigão.

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